“A semana inicia com temporais isolados, ventos fortes e queda acentuada de temperatura. Nesta terça-feira (12), as regiões do Extremo Oeste ao Litoral Sul, que fazem divisa com o Rio Grande do Sul, têm maior chance de temporais com ventos fortes. E entre terça e quarta-feira (13), na retaguarda da frente fria (FF), avança uma massa de ar fria e seca fazendo as temperaturas despencarem no estado.”
O alerta não é dos canais de informações meteorológicos habituais, mas do novo sistema de detecção de FFs desenvolvido no Mestrado Profissional em Clima e Ambiente do campus Florianópolis do Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc), pela meteorologista Roseli de Oliveira, e que passará a ser utilizado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a partir de quinta-feira (14), quando Roseli instala o novo sistema automatizado nos equipamentos do setor de Monitoramento Agro da Epagri (Ciram).
O trabalho teve como meta avaliar os efeitos da passagem de frentes frias pelo Sul e Centro-Sul da América do Sul, entre 1991 e 2020, por meio de um método automatizado de detecção, visando auxiliar a previsão de eventos meteorológicos de alto impacto que atuam na região. “Atuei como meteorologista por três anos na Defesa Civil. E o meteorologista necessita de precisão para realizar uma previsão assertiva. A escolha do tema foi para auxiliar e facilitar o desempenho de funções dos meteorologistas. E também porque diversos sistemas meteorológicos causam eventos de alto e médio impacto em Santa Catarina”, conta a hoje mestre em Clima e Ambiente, mas que iniciou sua trajetória na área através do curso Técnico Subsequente em Meteorologia do campus Florianópolis.
Roseli revela que existem muitos estudos sobre métodos de detecção de FF, porém, nenhum abordou a intensidade delas em determinada região. “Essa é a diferença entre o nosso estudo (sistema) para os demais”, afirma ela. “Nosso software foi testado e validado com frentes frias já ocorridas em Santa Catarina no período de 2015 e 2020. Santa Catarina foi escolhida devido à ocorrência de eventos de alto impacto. Mas para a dissertação, o software foi validado também na área Centro-Sul da América do Sul. Todo mundo pode criar, desenvolver inovações, porém, temos que validar e provar que funcionam. A própria utilização do sistema de detecção pela Epagri dará sequência a essa validação do software”, comemora.
Desenvolvimento
Nos últimos anos, muitos estudos em várias regiões do globo têm se voltado para a aplicação de métodos objetivos de detecção destas frentes frias, visando melhorar a previsibilidade dos sistemas.
As frentes frias podem causar eventos de médio e alto impacto na região que atuam. Algumas delas levam a fortes chuvas ou tempestades. No inverno, levam à queda acentuada de temperatura, com impactos na agricultura, nos setores econômico e social.
A pesquisa desenvolvida no Programa de Mestrado em Clima e Ambiente partiu da ideia de que seria possível identificar as frentes frias e seu deslocamento, com a possibilidade de determinar sua intensidade - fraca, moderada ou forte. Para isso, foi desenvolvido um algoritmo computacional, denominado de Índice de Detecção de Frentes Frias (IFF), e para esta detecção, são utilizados pela pesquisa dados de vento e temperatura, em áreas previamente determinadas no Sul e Centro-Sul da América do Sul, incluindo o litoral do Oceano Atlântico.
O trabalho ainda classificou as quatro principais trajetórias das frentes frias: oceânica, litoral oceânica, continental costeira e continental.
A mestre em Clima e Ambiente conta que o desenvolvimento do software exigiu programação em Grid Analysis and Display System (Grads), ferramenta de desktop interativa usada para fácil acesso, manipulação e visualização de dados de ciências da terra. “Aprendi a utilizar o Grads no Ifsc, ainda na época do curso Técnico Subsequente, o que já me auxiliou quando cursei a graduação”, ressalta Roseli.
O software desenvolvido no Ifsc, sob a orientação do professor Mario Francisco Leal de Quadro, está em processo de registro no Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), e estará disponível na página principal da Epagri. A utilização pela empresa pública será através de uma parceria institucional entre as partes (Mestrado – Epagri), uma vez que o objetivo do Mestrado Profissional é o de desenvolver tecnologia para empresas públicas ou privadas. Assim, caso outra região ou localidade queira utilizar esse software, é possível adaptar e formalizar a legalidade com o Ifsc.